domingo, 2 de junho de 2013

No passado, a medicina natural era considerada uma arte praticada por pessoas com profundo conhecimento das plantas e suas qualidades, mas, no futuro, a ciência, a tecnologia e a economia terão cada vez mais influência sobre a forma como é exercida. A investigação está continuamente a revelar novas aplicações de plantas medicinais, que poderão conduzir a melhorias significativas na saúde em todo o mundo. À Descoberta dos Tesouros da Natureza. O reino vegetal é há muito reconhecido como fonte e promissora de potenciais remédios. Por todo o mundo, os investigadores estão cada vez mais a rever sistematicamente a composição química das plantas medicinais, numa tentativa de descobrir os seus segredos terapêuticos. Em alguns casos são identificados, em estudos laboratoriais, novos componentes potencialmente benéficos para a saúde humana e os investigadores envidam esforços com vista a isolá-los e purifica-los ou replicá-los sinteticamente de modo a poderem ser usados como medicamentos. Este tipo de investigação pode parecer bastante especulativo, mas as companhias farmacêuticas têm boas razões para dedicarem parte dos orçamentos de investigação a este tipo de trabalho, uma vez que muitos dos fármacos disponíveis no mercado são produzidos desta maneira. Por exemplo, a aspirina é um composto sintético baseado nos ácidos acetilsalicílicos que a ulmária e outras plantas contêm. Estão a ser feitas descobertas surpreendentes: o esteviosideo, presente na estévia-do-paraguai (Stevia redaudiana), é 300 vezes mais doce do que o açúcar, mas não engorda nem altera o nível de glicose. Aprovação das Tradições Locais. Os etnobotânicos exploram o papel que as plantas medicinais representam em diferentes sociedades e culturas. A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece que muitos povos confiam nos remédios tradicionais locais para tratar distúrbios e doenças e que, sobretudo nos países em desenvolvimento, estes são muitas vezes, mais baratos do que os medicamentos convencionais. No futuro, a etnobotânica continuará a desempenhar um importante papel na documentação destas práticas tradicionais, para que a sua segurança e eficácia possam ser avaliadas e, sempre que apropriado, aprovadas pelos prestadores de cuidados de saúde locais. Validação de Remédios Naturais. O ensaio clinico em dupla ocultação e controlado por placebo é considerado o melhor de investigação clinica, permitindo avaliar, de forma isenta, a segurança e a eficácia dos medicamentos. Á medida que se submetem mais plantas a ensaios clínicos e se demonstram os seus benefícios terapêuticos, a credibilidade dos remédios à base de plantas aumenta no seio da comunidade médica e os médicos tornam-se mais receptivos à ideia de os prescrever. Contudo alguns produzem resultados negativos pondo em causa a utilização de certos remédios, bem como a forma como o ensaio foi conduzido. Embora os ensaios clínicos forneçam muita informação e investigadores e à classe médica, surgem alguns desafios a este método de testar medicamentos à base de plantas medicinais. A primeira barreira a transpor é a de que todos os participantes do estudo deverão tomar exactamente o mesmo medicamento: no entanto, como se tratam de substâncias naturais, as plantas podem conter variações químicas de um lote para outro. Deste modo, os produtos à base de plantas medicinais usados em muitos estudos são normalizados e possuímos agora um significativo conjunto de provas que defende a utilização destes produtos (habitualmente plantas isoladas sob a forma de comprimidos ou cápsulas). Porém, há menos evidências que demonstrem a eficácia de preparações mais tradicionais, como infusões e decocções caseiras e remédios feitos a partir da combinação de várias plantas. Os processos envolvidos na criação de produtos vegetais normalizados conferem às empresas um grau de propriedade sobre os resultados da pesquisa dando-lhes maior espaço de manobra para recuperarem os avultados investimentos efectuados, alegando que os seus produtos foram clinicamente testados, enquanto os produtos não-normalizados não o foram. Estas questões têm grandes implicações na forma como a medicina natural será praticada no futuro, tendo já influenciado muitos médicos e fito terapeutas a prescrever remédios normalizados que tenham sido clinicamente testados. Um exemplo: A MALÁRIA AFECTA TODOS OS ANOS, MAIS DE 500 MILHÕES DE PESSOAS. A CADA 30 SEGUNDOS MORRE UMA CRIANÇA DESTA DOENÇA. Qing hao – Um Anti malárico Eficaz. O qing hao (Artemísia annua), ou losna-chinesa, é um excelente exemplo de como a medicina natural pode ter impacto significativo nos avanços da medicina tradicional. Em 1970, investigadores chineses redescobriram o seu potencial quando tentavam encontrar um remédio à base de plantas para tratar a malária. Pesquisas subsequentes revelaram que a artemisina, um dos principais constituintes activos do quig hao, é eficaz contra o parasita da malária, introduzido no organismo por mosquistos infectados e responsável anualmente pela morte de milhões de pessoas. Actualmente, o tratamento contra a malária já foi revolucionado pela combinação terapêutica à base de artemisina (ACT), que junta derivados da artemisina e agentes farmacêuticos num único fármaco. Como a ACT trata com segurança a malária em apenas três dias, a OMS considerou-a um tratamento de primeira linha contra esta doença; até ao momento já salvou milhões de vidas em todo o mundo. Contudo, esta combinação é cara, custando até mais 15 vezes do que a geração anterior de fármacos anti-malários. Porém, sob o ponto de vista económico, a artemisina também demonstrou ser revolucionária. Em 2003, os Médicos sem Fonteiras, em colaboração com institutos de investigação de África, da Ásia, da Europa e da América do Sul, criaram a Drugs for Neglected Diseases Initiative. Até à data, esta parceria desenvolveu duas formas de ACT, os primeiros medicamentos não patenteados no mundo, que estão a ser utilizados na Ásia, em África e nas Américas Central e do Sul, onde estão a mudar tanto o estado de saúde das comunidades afectadas pela malária como as respectivas previsões económicas.

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